O “PARTIDO SAQUAREMA” NA DISPUTA PELA PARTILHA DA AUTORIDADE SOBRE O PASSADO: NOVA DIREITA, MOVIMENTOS MONARQUISTAS E O SABER HISTÓRICO NO OCASO DA NOVA REPÚBLICA BRASILEIRA

Autores/as

  • Vicente da Silveira Detoni Universidade Federal do Rio Grande do Sul

DOI:

https://doi.org/10.18223/hiscult.v10i1.3388

Resumen

Resumo: O artigo sugere uma reflexão sobre a situação da historiografia no tempo presente à luz das disputas pela redefinição das hierarquias simbólicas e relativa suspensão das autoridades intelectuais no Brasil contemporâneo. Explora esta dinâmica, situada em meio a uma crise do sistema político da Nova República, examinando os usos do passado efetuados pela nova direita e pelo movimento monarquista, considerando a postura contestadora destes atores diante do establishment universitário e midiático. Argumenta que o conflito pela redefinição desta matriz de autorização discursiva implica também uma revisão das categorias temporais estabelecidas enquanto orientadoras da ação e do conhecimento. O artigo pretende apontar para a relação entre a irrupção de outras vozes sobre o passado e mutações no tempo histórico, sublinhando a posição cambiante que a historiografia ocupa na sociedade contemporânea.

Palavras-chave: Historiografia, Usos do passado, Autoridade, Nova Direita, Movimento Monarquista.

Biografía del autor/a

Vicente da Silveira Detoni, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Doutorando em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestre em História pela mesma instituição e graduado em História pela Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Erechim.

Citas

AGAMBEN, Giorgio. Tempo e História. Crítica do instante e do contínuo. In: AGAMBEN, Giorgio. Infância e História: Destruição da experiência e origem da história. Belo Horizonte: Editora UFMG; 2005

ARAUJO, Valdei Lopes de. O Direito à História: O(A) Historiador(a) como Curador(a) de uma experiência histórica socialmente distribuída. In: Géssica Guimarães, Leonardo Bruno, Rodrigo Perez. Conversas sobre o Brasil: ensaios de crítica histórica. Rio de Janeiro: Autografia, 2017, p.214; p.207.

AVELAR, Alexandre de Sá; VALIM, Patrícia. Negacionismo histórico: entre a governamentalidade e a violação dos direitos fundamentais. Revista Cult (site), setembro de 2020. Disponível em: <https://revistacult.uol.com.br/home/negacionismo-historico/>. Acesso em: 15/01/2021

AVILA, Arthur de Lima. Qual passado usar? A historiografia diante dos negacionismos (artigo). In: Café História – história feita com cliques. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/negacionismo-historico-historiografia/. Publicado em: 29 abr. 2019. Acesso: 06 de julho de 2019.

BARRETO, André Assi; SCANSANI, Marcio (orgs.). A Monarquia é Real. Santo André, SP: Armada, 2019.

BARROS, Celso Rocha de. A história de dois azares e um impeachment. In: (Vários autores). Democracia em risco? 22 ensaios sobre o Brasil hoje. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

BERLANZA, Lucas. Uma concepção burkeana de Constituição e a questão monárquica brasileira. Instituto Liberal (site), 16 de novembro de 2016. Disponível em: <https://www.institutoliberal.org.br/blog/uma-concepcao-burkeana-de-constituicao-e-questao-monarquica-brasileira>. Acesso em: 15/01/2020.

BERLANZA, Lucas. Guia bibliográfico da Nova Direita: 39 livros para compreender o fenômeno brasileiro. São Luis – Maranhão: Resistência Cultural, 2017.

BRASIL PARALELO. Brasil: A Última Cruzada. LHT Higgs Produções Audiovisuais LTDA, 2018. Disponível em: <https://site.brasilparalelo.com.br/series/brasil-a-ultima-cruzada/>. Acesso em: 15/01/2021.

CARVALHO, Andrezza. "Voto Rebelde é na monarquia!": a disputa entre monarquistas x republicanos e parlamentaristas x presidencialistas no plebiscito de 1993. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a conclusão do curso de Licenciatura em História ao Departamento de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2018.

CARVALHO, Olavo de. A direita permitida. Jornal Zero Hora, Porto Alegre, 1 de julho de 2000. Disponível em: <https://olavodecarvalho.org/a-direita-permitida/>. Acesso em: 29/01/2021.

CASSOTTI, Marsilio. A biografia íntima de Leopoldina: a imperatriz que conseguiu a independência. São Paulo: Planeta, 2015.

CAZZETA, Felipe A. Charles Maurras e o surgimento do Integralismo Lusitano: teorias e apropriações doutrinárias. Revista Cantareira, edição 17, ju,/dez, 2012.

CHALHOUB, Sidney. População e sociedade. In: CARVALHO, José Murilo de (coord.). A construção nacional (1830-1889), volume 2. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

FLEIUSS, Max. A Paladina da Independência. In: FLEIUSS, Max. Páginas de História. 2. ed. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1930.

FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso: aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. 2 ed. São Paulo: Edições Loyola, 2013.

FUKS, Julián. Prefácio. In: ELTIT, Diamela. Jamais o fogo nunca. Traduzido por Julián Fuks. Belo Horizonte: Editora Relicário, 2017. Disponível em: ). Acesso em: 21/12/2020.

GARSCHAGEN, Bruno. Parem de acreditar no governo: por que os brasileiros não confiam nos políticos e amam o Estado. Rio de Janeiro: Record, 2015.

GARSCHAGEN, Bruno. Em busca de um Conservadorismo Brasileiro. In: TORRES, João Camilo de Oliveira. O elogio ao conservadorismo e outros escritos. Curitiba: Arcádia, 2016a.

GARSCHAGEN, Bruno. Monarquista, graças a Deus. Gazeta do Povo (site), 16 de novembro de 2016b. Disponível em:<https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/colunistas/bruno-garschagen/monarquista-gracas-a-deus-0iv6ae12s332qtywps2qfyrlg/?ref=link-interno-materia>. Acesso em: 15/01/2020.

HARTOG, François. Regimes de Historicidade: presentismo e experiência do tempo. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014.

HARTOG, François. Crer em história. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2017.

HERDEIROS DO PORVIR. Entrevista com o Príncipe Dom Rafael de Orleans e Bragança. São Paulo: Pró-Monarquia. Ano XVIII, n. 31, nov/dez, 2012, p.7.

LOREDO FILHO, José. Uma defesa da monarquia histórica. In: BARRETO, André Assi; SCANSANI, Marcio (orgs.). A Monarquia é Real. Santo André, SP: Armada, 2019.

MALATIAN, Teresa Maria. Os Cruzados do Império. São Paulo: Contexto, 1990.

MALERBA, Jurandir. Os historiadores e seus públicos: desafios ao conhecimento histórico na era digital. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 37, nº 74, 2017.

MARQUESE, Rafael; SALLES, Ricardo (org.). Escravidão e capitalismo histórico no século XIX: Cuba, Brasil e Estados Unidos. 1. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.

MILANOVIC, Branko. Capitalismo sem rivais: o futuro do sistema que domina o mundo. São Paulo: Todavia, 2020.

MOUFFE, Chantal. Sobre o Político. 1. ed. Tradução de Fernando Santos. São Paulo: Martins Fontes, 2015. 135p.

MUDROVCIC, María Inés Mudrovcic. The politics of time, the politics of history: who are my contemporaries?, Rethinking History, 23:4, 456-473, 2019.

NARLOCH, Leandro. Guia politicamente incorreto da história do Brasil. 2 ed. São Paulo: Leya, 2012.

NAPOLITANO, Marcos. Recordar é vencer: as dinâmicas e vicissitudes da construção da memória sobre o regime militar brasileiro. Antíteses, v. 8, n. 15esp., p. 09-44, nov. 2015.

NICOLAZZI, Fernando. O Brasil Paralelo produz História?. Historiar-se – via Youtube, (22 de março de 2019). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=R71LxS5FhD8>. Acesso em: 15/01/2021.

NICOLAZZI, Fernando. Brasil Paralelo entre o passado histórico e a picanha de papelão. Jornal Sul 21 (site), 7 de abril de 2019. Disponível em: <https://www.sul21.com.br/opiniaopublica/2019/04/2019-o-brasilparalelo-entre-o-passado-historico-e-a-picanha-de-papelao-por-fernando-nicolazzi/>. Acesso em: 15/01/2021.

NOBRE, Marcos. Imobilismo em movimento: da abertura democrática ao governo Dilma. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

OBERACKER JR., Carlos H. A Imperatriz Leopoldina. Sua vida e sua época. 1ª edição. Ensaio de uma biografia. s.l.: Conselho Federal de Cultura, 1973. 493p.

ORLEANS E BRAGANÇA, Luiz Philippe. Por que o Brasil é um país atrasado? O que fazer para entrarmos de vez no século XXI. 2 .ed., São Paulo, SP: Maquinaria Studio, 2019.

PEREIRA, Gastão Reis Rodrigues. A Falência da Res Publica: ensaios e artigos em busca de um tempo perdido. São Paulo: Linotipo Digital, 2017.

PEREIRA, Mateus Henrique de Faria; ARAUJO, Valdei Lopes de. Reconfigurações do tempo histórico: presentismo, atualismo e solidão na modernidade digital. Revista da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, v. 23, n. 1 e 2, p. 270–297, 2017. DOI: 10.35699/2316-770X.2016.2770. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistadaufmg/article/view/2770. Acesso em: 20 dez. 2020.

PINHA, Daniel. Projetos de democracia em dissolução no Brasil desde 2016. In: GUIMARÃES, Géssica; BRUNO, Leonardo; PEREZ, Rodrigo (orgs.). Conversas sobre o Brasil: ensaios de crítica histórica. Rio de Janeiro: Autografia, 2017, p. 217-248.

REZZUTTI, Paulo. Leopoldina, primeira governante do Brasil. Revista História Viva, ed. 114, abril de 2013, p.34-39.

REZZUTTI, Paulo. Pedro II: o último imperador do Novo Mundo revelado por cartas e documentos inéditos. São Paulo: LeYa, 2019.

REZZUTTI, Paulo. D. Leopoldina: a história não contada: a mulher que arquitetou a Independência do Brasil. São Paulo: LeYa, 2020 [2017].

RIBEIRO, Djamila. Lugar de fala. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.

RICUPERO, Bernando. O conservadorismo difícil. Anais do 34º Encontro Anual da Anpocs, de 25 a 29 de outubro de 2010, em Caxambu/MG.

ROCHA, Camila. “Menos marx, mais Mises”: Uma gênese da nova direita brasileira (2006-2018). Tese (Doutorado)- Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Departamento de Ciência Política. Área de concentração: Ciência Política. Orientador Adrian Gurza Lavalle. - São Paulo, 2018.

RODRIGUES, José Honório. A historiografia monarquista. In:_____. História da História do Brasil. A historiografia conservadora. Vol. II, t. 1 e 2. São Paulo: Companhia Editora Nacional; Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1988.

ROQUE, Tatiana. Intelectuais de internet chegam ao poder: a luta de classes do saber. Le monde Diplomatique (Brasil), ed. 138, Janeiro 3, 2019.

RUFER, Mario. La temporalidad como política: nación, formas de pasado y perspectivas poscoloniales. Memoria y Sociedad, Bogotá (Colombia), n. 28, 2010.

SAFATLE, Vladimir. Só mais um esforço. São Paulo: Três Estrelas, 2018.

SAFATLE, Vladimir. Os espectros do tempo. Folha de São Paulo, 28 set 2018. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/colunas/vladimirsafatle/2018/09/os-espectros-do-tempo.shtml>. Acesso em: 15/01/2021.

SALLES, Leonardo Gaspary. Nova Direita ou Velha Direita com Wi-Fi? Uma interpretação das articulações da “direita” na internet brasileira. Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do Grau de Mestre em Sociologia Política, Florianópolis, 2017.

SALLES, Ricardo. Nostalgia imperial: escravidão e formação da identidade nacional no Brasil do Segundo Reinado / Ricardo Salles. - 2. ed. - Rio de Janeiro: Ponteio, 2013.

SANTOS, Arlindo Veiga dos. Idéias que marcham no silêncio. São Paulo: Pátria-Nova, 1962.

SANTOS, Armando Alexandre dos. Parlamentarismo, sim! Mas à brasileira: com Monarca e com Poder Moderador eficaz e paternal. São Paulo: Artpress, 1992.

SMITH, Bonnie. Gênero e História: homens, mulheres e a prática histórica. Bauru, SP: EDUSC, 2003.

TESSITORE, Viviane. Pósfácio: A primeira imperatriz do Novo Mundo. In: REZZUTTI, Paulo. D. Leopoldina: a história não contada: a mulher que arquitetou a Independência do Brasil. São Paulo: LeYa, 2020 [2017].

TORRES, João Camilo de Oliveira Torres. A democracia coroada: teoria política do Império do Brasil. Brasília: Câmara dos Deputados, 2017 [1964].

TSE. Brasil acima de tudo, Deus acima de todos. 2018. Disponível em: <http://www.tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-2018/propostas-de-candidatos>. Acesso em: 28/12/2020

VICENTIS, Paulo de. Pintura histórica no Salão do Centenário da Independência do Brasil. Dissertação apresentada à Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Filosofia do Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais, São Paulo, 2015.

VILAR, Luis. Pósfacio. In: BARRETO, André Assi; SCANSANI, Marcio (orgs.). A Monarquia é Real. Santo André, SP: Armada, 2019.

WERK, Kaué; MENUNNIZIER, Renan. Pátria-Nova: O Patrianovismo e a Resistência Monarquista sob a Ótica da Ação Orleanista. Rio de Janeiro: [edição digital], 2020. Disponível em: < http://bit.ly/2MnYnhR >. Acesso em: 01/02/2021

Publicado

2021-07-27